Colaboração: Cláudia Brito, do jornal O Testemunho de Fé
Fotos: Carlos Moioli e Gustavo de Oliveira
Cerca de 3 mil pessoas se reuniram, na manhã desta quarta-feira, 13 de abril, ao redor do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, para a Missa de 7º dia em intenção das 12 crianças mortas na Escola Municipal Tasso da Silveira no último dia 7, em Realengo. Autoridades religiosas, civis e militares estiveram em oração, para um autêntico testemunho de solidariedade às famílias das vítimas e aos alunos e professores envolvidos no drama.
— Eu gostaria que essa manifestação religiosa fosse a que marcasse a visão da escola daqui pra frente: visão de confiança e de esperança, desejou o Arcebispo.
Ao dar ênfase à beleza e à solidariedade do povo carioca, a Celebração Eucarística foi um marco para destacar os traços de fé que fazem parte dos moradores do Rio de Janeiro e do Brasil, que acreditam e lutam pela paz.
— O que assistimos aqui, nesses dias, não representa o que somos. Não expressa o que carregamos no coração. Não significa o muito que sonhamos. (...) Somos gente de esperança e de paz, explicou o texto de abertura lido pelo ator Milton Gonçalves.
Entre essa gente de esperança e paz, pessoas de fé, de diferentes pontos da cidade, quiseram se fazer presentes. Desde antes das 8h, paroquianos de diversas comunidades da Arquidiocese do Rio já estavam reunidos em oração no local preparado para a Missa. Muitos não conheciam as vítimas. O intuito dos seus corações era o de apenas prestar solidariedade, conforme o apelo do Arcebispo a todas as paróquias, no último final de semana.
— Temos que estar presentes para apoiar as famílias e nos mostrar solidários, disse Isabel Domingos, da Paróquia Divino Espírito Santo, em Realengo.
— Quis vir viver este momento de solidariedade às vítimas, também em obediência ao nosso Bispo, Dom Orani, que convocou as nossas paróquias a estarem presentes, partilhou Severino Freire Costa, da Paróquia Cristo Ressuscitado, em Padre Miguel.
— É importante a gente vir para mostrar a nossa fé. Mostrar que apesar das dificuldades, da violência, nós cremos num Deus que operou evitando algo pior, e que sempre opera, contou Janice Maria da Rocha Pinto, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Padre Miguel.
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— Sabemos que a morte não é o fim, mas passagem para a vida eterna. (...) Se somos filhos de Deus, devemos colocar em prática o que Deus nos ensina, vivendo como irmãos, ajudando-nos mutuamente.
De acordo com o Vigário Episcopal do Oeste, Monsenhor Luiz Arthur de Barros Falcão, a Igreja, desde que o atentado à escola foi noticiado, procurou estar presente junto aos que dela necessitavam.
—Logo que soubemos do acontecido, eu, em nome do Arcebispo, me fiz presente aqui na escola. Atendemos professores, os familiares, as crianças. Depois, com Dom Orani, fomos para o hospital, acompanhamos as famílias, demos assistência na medida do posssível. Agora, os trabalhos vão continuar de uma forma mais específica e pessoal. (...) A Igreja como mãe, como a figura do próprio Cristo, Bom Pastor, está com a missão de resgatar essas pessoas que foram atingidas pela dor tão profunda da violência, explicou o Vigário Episcopal.
Também a secretária municipal de educação, Claudia Costin, em entrevista exclusiva aos veículos de comunicação da Arquidiocese, reconheceu que o momento de dor tem força para inaugurar um tempo novo para a esperança.
— Foi muito triste tudo que aconteceu. Mas fico querendo que a energia dessas crianças possa nos trazer esperanças para construir uma escola cada dia melhor, que forme bonitos seres humanos, que construa o futuro das crianças que continuam na escola e que podem ter um amanhã muito mais bonito.
E os muitos atos de solidariedade não passam despercebidos por quem experimenta, neste momento, a dor. Eles também refletem a esperança. Cássia Maria da Silva Pinto, mãe de Rafael, uma das vítimas do atentado, tem esse registro bem forte no seu interior.
— Deus está me segurando, me ajudando. (...)Estou tendo apoio de toda a família, de todos os amigos e experimentando uma mobilização muito grande mesmo, partilhou.
Após a Missa, houve um encontro interreligioso, durante o qual representantes das diversas crenças puderam também expressar sua solidariedade às famílias e pessoas envolvidas no drama.
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Herói, aclamado pelo povo
Durante o encontro interreligioso, o segundo sargento da Polícia Militar, Márcio Alves, por ter ganho o coração da comunidade local, por alguns instantes roubou a cena. Assim que apareceu, foi logo identificado, aplaudido e aclamado como herói pelo povo. Apesar dos gritos de agradecimento, que puderam ser ouvidos, o policial demonstrou simplicidade e, emocionado, fez dois apelos.
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Mais uma expressão popular pôde, então, ser ouvida:
— Obrigado, porque se não fosse você talvez minha filha também tivesse morrido!
A aluna do 8º ano Tayara Dantas de Oliveira, de 14 anos, que estava presente na Escola quando tudo aconteceu, também parece concordar com essa manifestação popular. Ela fez questão de reconhecer o mérito de quem a salvou e de prestigiar a palavra de quem se arriscou pela vida de tantos.
— Com certeza Deus me ajudou para que eu estivesse viva. (...)Vou atender ao apelo do sargento para não abandonar a escola, partilhou.
Ao término do encontro, helicópteros das policias militar e civil sobrevoaram o local, presenteando a todos com uma chuva de pétalas de rosa, também em homenagem às crianças falecidas.
Os representantes das diversas crenças presentes, concluindo o encontro, abraçaram a Escola Tasso da Silveira, para juntos rezarem a oração do Pai Nosso.
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Ensino Religioso: “eu não vejo nenhum problema”, disse a secretária municipal de educação
O encontro interreligioso deixou latente que neste momento a sociedade sofre as dores da violência ocorrida em cenário predominantemente voltado para o lúdico e a aprendizagem.
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Para o Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio Dom Antonio Dias Duarte, a construção desse mundo diferente também faz parte da missão da Igreja.
- Quando a Igreja luta por seus ideais, por exemplo, pela implantação do ensino religioso, confessional e plural na escola pública, não é porque ela quer divulgar a religião, mas formar bem a criança no âmbito da moral e da ética, ensinar a respeitar a vida, a família, o semelhante e demais valores sociais que repercutem na paz e na harmonia na sociedade, afirmou.
Para o Bispo Auxiliar Dom Nelson Francelino Ferreira, o ensino religioso é uma importante contribuição para a construção de uma cultura de paz.
— O ensino religioso vai, com certeza, redimensionar a educação para os valores transcendentes, para os valores que abraçam essa outra dimensão do ser humano, que a nossa cultura imediatista não trabalha. Eu creio que, neste momento, é uma contribuição para que o homem preste mais atenção e resgate valores que venham a dinamizar essa transcendência humana, que não pode ser substituída ou deixada para segundo plano de jeito nenhum, expressou.
A secretária municipal de educação, embora diga ser a favor do ensino laico, mostrou sua abertura para a discussão:
— A educação é sempre positiva e sempre faz com que as pessoas avancem. (...) A constituição brasileira prevê a possibilidade do ensino religioso desde que seja facultativo e desde que seja implantado respeitando a opção individual e não prejudicando o ensino das demais disciplinas. E, sobretudo, permitindo que se trabalhem valores universais. Eu não vejo nenhum problema, afirmou Cláudia Costin.
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